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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Nas entrelinhas do Projeto Escola Sem Partido: mordaça ou liberdade na escola?

Na última segunda-feira,dia 18 de agosto,o senado abriu uma consulta pública sobre o Projeto de Lei 193/2016 que “inclui entre as diretrizes e bases da educação o Programa Escola sem Partido”. E o que é este programa?
Miguel Nagib, coordenador do programa, define oprojeto Escola sem Partido como uma associação informal, independente, sem fins lucrativos e sem qualquer espécie de vinculação política, ideológica ou partidária, composta por pessoas que vêm preocupadas com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras. Os integrantes do movimento insistem que há, por parte dos professores, uma doutrinação de seus alunos, tidos como jovens vulneráveis e indefesos.



Visando o “fim desta doutrinação” o programa faz uso de redes sociais para divulgar suas propostas e “alertar” os pais e alunos sobre tal contaminação. Nas redes sociais o projeto ataca de forma agressiva os profissionais da educação, os livros didáticos e ícones da educação brasileira, como Paulo Freire, com matérias intituladas “Alunos ou reféns?”, “Síndrome de Estocolmo”, “Paulo Freire e a educação bancária ideologizada”, dentre muitas outras. Além disso, o programa vem propondo projetos de lei que alteram artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96). Um deles é o PL 193/2016, que discorre, no Art. 2°:
“A educação nacional atenderá aos seguintes princípios:
 I - neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado; II - pluralismo de ideias no ambiente acadêmico; III - liberdade de aprender e de ensinar; IV - liberdade de consciência e de crença; V - reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado; VI - educação e informação do estudante quanto aos direitos compreendidos em sua liberdade de consciência e de crença; VII - direito dos pais a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções. Parágrafo único. O Poder Público não se imiscuirá na opção sexual dos alunos nem permitirá qualquer prática capaz de comprometer, precipitar ou direcionar o natural amadurecimento e desenvolvimento de sua personalidade, em harmonia com a respectiva identidade biológica de sexo, sendo vedada, especialmente, a aplicação dos postulados da teoria ou ideologia de gênero”.
Tal artigo, embora estruturado de forma muito semelhante ao Art. 3° da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional– LDBEN de 1996, claramente exclui as partes que dizem respeito ao profissional da educação. O inciso III do Art. 3° da LDBEN nos diz que um dos princípios da educação básica será o “pluralismo de ideias e concepções pedagógicas”, enquanto o inciso II do Art. 2° do Projeto Escola sem Partido - PL 193/2016 - descreve como princípio da educação básica apenas o “pluralismo de ideias no ambiente acadêmico”. De forma semelhante, o inciso III dessePL determina a “liberdade de aprender e ensinar” enquanto o inciso II da LDBEN/96 determina a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber”.
O Escola sem Partido aponta logo no inciso I do Art. 2° a pretensa neutralidade do Estado. Mas vamos discutir: de qual neutralidade o PL trata?Essa neutralidade é possível?
O mesmo projeto exclui os incisos da LDBEN que dizem respeito a valorização do profissional da educação básica, a valorização da experiência extraescolar, a vinculação entre educação escolar, trabalho e práticas sociais, além da gestão democrática do ensino público. Qual a justificativa para tais exclusões? Isso representaria doutrinação política dos alunos?
O projeto de lei determina o “reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado”. Seria esta afirmação verdadeira? O que os leva a afirmar a vulnerabilidade dos nossos jovens? Seriam nossos alunos tão indefesos assim, sem capacidade de articulação e contra argumentação? Além disso, o projeto determina o “direito dos pais a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções”. Qual a real possibilidade de alcançar esse objetivo? Como serão divididos os alunos nas turmas? De acordo com a semelhança das convicções de cada um?

Essa grande preocupação com a educação moral, política, religiosa do alunado, se esmiuçada, revela contradições. Não estariam as propostas do programa irrigadas também por ideologia? Não seriam estas propostas baseadas em opiniões políticas? Professores de todo país se referem ao projeto como “Lei da Mordaça” e organizaram o Movimento Nacional contra o Escola sem Partido!

Para os docentes, o Escola Sem Partido não batalha pelo fim das opiniões políticas e da difusão ideológica dentro das salas de aula. Apenas enseja a substituição destas por outras opiniões e ideologias, que seus autores julgam mais adequadas.
Ao aprovar este projeto, não estaríamos mandando por água abaixo tudo o que foi conquistado, nos últimos 30 anos de luta, no campo da educação democrática?


Manifeste a sua opinião e participe da votação na Câmara dos Deputados, através da página: https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=125666




Bibliografia:

Site do Escola Sem Partido. Disponível em:<http://www.escolasempartido.org/>.
Acesso em 20 de julho de 2016.

MANHAS, Cleo. “Escola sem partido”, escola silenciada. In: Outras Palavras, 05/07/2016. Disponível em:<http://outraspalavras.net/brasil/escola-sem-partido-escola-silenciada/
Acesso em 20 de julho de 2016.





Autoria: Maria Carolina Pires de Andrade
Licencianda em Ciências Biologicas _ UFRJ
Bolsista Pibex




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segunda-feira, 11 de julho de 2016

BACTÉRIAS “SUPERPODEROSAS”: QUEM VAI VENCER ESSA BATALHA?

A resistência aos antibióticos – um processo em que eles perdem o efeito, porque as bactérias tornaram-se resistentes – está ganhando nova importância na agenda global, devido à crescente consciência da imensa ameaça que representam à saúde e à sobrevivência humanas. No entanto, ainda não há ações suficientes para enfrentar tal crise, que foi debatida no encontro dos ministros da Saúde na ONU, entre 23 e 28 de maio deste ano.
Nosso corpo vive cercado de bactérias. Elas estão por toda parte, na nossa pele, boca, intestino e nas vias aéreas superiores. Vivemos em harmonia com elas e pra falar a verdade não viveríamos sem elas. Dizemos então que somos colonizados por bactérias. Toda vez que uma bactéria tenta entrar num órgão onde ela não deveria estar, como pulmão, bexiga, ou sangue, nosso organismo aciona mecanismos de defesa que as eliminam na hora, sem muita dificuldade. Esse processo ocorre quase que diariamente no nosso corpo.
Não devemos nos automedicar, pois isso pode trazer danos para o corpo. Somente um médico para realmente saber se estamos doentes e se estas doenças são causadas por bactérias ou outros microrganismos. A gripe, por exemplo, é causada por um vírus e não adianta de nada tomar antibióticos, o que pode diminuir nossas defesas. Porém, muitas pessoas tomam medicação por conta própria, sem ir ao médico para analisar se precisa ou não de antibióticos. Quando tomamos antibióticos, esses matam não somente as bactérias que estão causando a infecção que queremos tratar, mas também grande parte das bactérias que colonizam nosso corpo. Se tomarmos múltiplos antibióticos, cada vez mais potentes,  esse ciclo se repete até o ponto em que ficamos colonizados por bactérias resistentes a literalmente todos os antibióticos.
Não só em nas nossas casas e em nosso corpo existem bactérias. Existe uma grande variedade de bactérias em hospitais, pelo grande número de doentes, por existirem vários doentes num mesmo quarto, pela falta de higiene dos profissionais de saúde, o que pode ocasionar a temida infecção hospitalar.
A discussão está em torno da dispersão desta ‘super bactéria’. O médico Osvaldo Vitorino Oliveira, especialista na área de infectologia e epidemiologia, reforça que as bactérias se manifestam apenas em hospitais e em pessoas com quebra de barreira imunológica. Conforme o médico, as bactérias têm vários mecanismos de resistência e, pelo uso dos antibióticos no ambiente hospitalar, são selecionadas as mais fortes que sobrevivem e se reproduzem.  É o caso da super bactéria KPC (Klebsiella pneumonia carbapenemase).
“Esta bactéria só atinge pacientes fragilizados e internados em hospitais, principalmente em Unidades de Terapia Intensiva. Ela pode provocar pneumonia, infecções urinárias em pacientes com sondas, e infecção de ferida cirúrgica”, afirma o médico.
 A informação foi divulgada pelo gerente-geral de Tecnologia dos Serviços de Saúde da Anvisa. Éder Murari Borba explicou que a KPC é endêmica em vários países do mundo e não há como prever quando é que a superbactéria vai surgir em determinado país.  "Nós temos essa bactéria infectando quase todas as cidades da Argentina, Estados Unidos e, no Brasil, temos casos sendo relatados desde 2005", afirmou. 
O representante da Anvisa esclareceu ainda que é quase impossível prevenir a ocorrência de um surto. O que é preciso, segundo ele, é detectar a KPC no início –  “e isso é o que foi feito no DF. Ela está sendo controlada com medidas de higienização dos hospitais e isolamento dos pacientes”, disse Éder Murari.

Fonte: Diário Catarinense



Questão para debate:


Pense como podemos minimizar o ataque de bactérias super resistentes.




Bibliografia:


ALVIM, Flávio. Superbactéria-Você sabe como ela apareceu e como combatê-la? Disponível em:<http://blog.infohealth.com.br/superbacteria-voce-sabe-como-ela-apareceu-e-como-combate-la/>.Acesso em: 27 de junho de 2016.

DIÁRIO CATARINENSE. Médico infectologista reforça que superbactéria se manifesta apenas em ambiente hospitalar. Disponível em:<http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2012/02/medico-infectologista-reforca-que-superbacteria-se-manifesta-apenas-em-ambiente-hospitalar-3678826.html>. Acesso em: 27 de junho de 2016.


PORTAL BRASIL. Anvisa anuncia medidas para conter superbactéria KPC. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/saude/2010/10/anvisa-anuncia-medidas-para-conter-superbacteria-kpc>. Acesso em: 27 de junho de 2016.





Autoria :Juliana Lima de Asevêdo de Avelar Almeida. / Licencianda em Ciências Biológicas. Bolsista PIBEX



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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Produção do conhecimento científico: estaria o nosso método ultrapassado?



Para que um novo conhecimento seja aceito pela comunidade científica, pesquisadores devem redigir uma primeira versão de seus resultados sob a forma de artigo contendo todo o processo de elaboração científica, com observação, construção da hipótese ou hipóteses, experimentação – os materiais e os métodos, bem como apresentar o protocolo utilizado –, resultados, conclusões e apresentação da teoria. Essa primeira versão do artigo é chamada de “preprint” e deve ser encaminhada à revista na qual deseja-se que o trabalho seja publicado. Nesta fase, é comum os pesquisadores zelarem pelo sigilo de seus resultados, isto é, não os divulgam abertamente.



Após a submissão do preprint, o trabalho passa por um processo chamado de “revisão por pares” no qual os pareceristas da revista vão analisar toda a construção do artigo; o protocolo, os materiais, se os resultados são condizentes e possíveis tendo como base os experimentos realizados, se as conclusões descritas são coerentes com os resultados obtidos, se o espaço amostral foi respeitado, dentre outros detalhes. Após esta fase o artigo pode ser aceito e publicado, ou ser enviado de volta ao pesquisador para que ajustes sejam feitos e, depois disso, o trabalho pode ser aceito e publicado ou recusado.
Esta estrutura de divulgação de novos conhecimentos científicos é respeitada desde o século XX e é tida até hoje por muitos pesquisadores como essencial para a confiabilidade dos novos conhecimentos científicos. Entretanto, muitos cientistas, dentre eles os físicos e biólogos, vêm adotando uma nova estrutura de divulgação de suas pesquisas, na qual o preprint é divulgado online antes de passar pelo processo de revisão que descrevemos. Alguns pesquisadores explicam que “o escrutínio da comunidade contribuiu para aprimorar detalhes que não haviam despertado a atenção dos revisores”, justificando que o acesso da comunidade ao preprint tem colaborado para o avanço da pesquisa e para o aprimoramento de sua publicação.
Seria essa “inversão na ordem” um novo modelo de divulgação científica? Como lidar com as possíveis fraudes e má conduta da própria comunidade científica? De que forma a divulgação de um possível resultado “incorreto” afetaria a população de forma geral? Experimentos feitos por apenas um grupo de pesquisadores são suficientes para transformar uma hipótese em teoria? Não seria diferente o impacto desse novo modo de divulgação entre pessoas possuidoras de níveis de conhecimento distintos? Além disso, como seria para os autores dos resultados se outros colegas de profissão publicassem seus resultados sem o seu consentimento? Que impactos essas situações trariam às comunidades científicas? E as revistas científicas, estariam de acordo com esse novo método?


Questões como estas e outras precisam ser discutidas não só pela comunidade científica como por toda a população que a financia, uma vez que não sabemos quem poderá ser afetado por essa possível mudança no processo de construção e divulgação da ciência.
Discuta com seus alunos, informe-os sobre essa possível mudança e faça-os ponderar sobre possíveis ônus e bônus dessa “modernização” da construção do conhecimento científico.

 

Bibliografia

Esteves, Bernardo. Biólogos aderem à publicação de resultados sem revisão. Disponível em : <http://piaui.folha.uol.com.br/questoes-da-ciencia/biologos-aderem-a-publicacao-de-resultados-sem-revisao/>. Acesso em : 03 de julho de 2016.

Proficência. História do método científica. Disponível em:  <http://www.proficiencia.org.br/article.php3?id_article=489>. Acesso em: 03 de julho de 2016.

 


Autoria: Maria Carolina Pires de Andrade (Licencianda em Ciências Biológicas/ UFRJ/ Bolsista PIBEX).




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