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quarta-feira, 22 de março de 2017

Já comeu papelão hoje ?

No dia 17 de março foi divulgada a Operação Carne Fraca, maior da história da Polícia Federal, que investiga um suposto esquema de pagamento de propina para agentes públicos com o objetivo de emitir, sem fiscalização, certificados de adequação aos padrões sanitários da carne vendida para consumo humano. A investigação também revelou os métodos e ingredientes usados por mais de 40 empresas do setor alimentício para adulterar o produto que consumimos. A Operação Carne Fraca levantou uma discussão polêmica: como, nós os consumidores saberemos se o que comemos é próprio para consumo? Como não sermos enganados por empresários que querem baixar seus gastos de produção ao misturarem outras substâncias aos alimentos para aumentarem seus lucros, desconsiderando os possíveis danos que podem causar a população?
De acordo com a Polícia Federal, frigoríficos envolvidos no esquema criminoso "maquiavam" carnes vencidas e subornavam fiscais do Ministério da Agricultura para que autorizassem a comercialização dos produtos sem a devida certificação.
Fonte: http://extra.globo.com/noticias/viral/operacao-carne-fraca-se-torna-um-prato-cheio-para-internautas-veja-os-memes-rv1-1-21080219.html
"Eles usam ácidos, outros ingredientes químicos, em quantidades muito superior à permitida por lei para poder maquiar o aspecto físico do alimento estragado ou com mau cheiro". "Eles usam ácido ascórbico e outras substâncias na carne para maquiar essa imagem ruim que ficaria se ela fosse exposta dessa forma. Inclusive cancerígenas. Então se usa esses produtos multiplicados cinco, seis vezes pela quantia permitida pela lei para que não dê cheiro, e o aspecto de cor fique bom também", explicou o delegado da Polícia Federal responsável pela investigação, Maurício Moscardi Grillo, em entrevista coletiva.
O ácido ascórbico - a popular vitamina C - também foi citado pelo delegado da Policia Federal como um produto usado para mudar o aspecto da carne.
Ao anunciar a operação, a Polícia Federal mencionou que empresas envolvidas no esquema de corrupção "usavam papelão para fazer enlatados (embutidos)". Em uma das ligações telefônicas citadas no relatório da Polícia Federal, funcionários do frigorífico BRF falam sobre o uso de papelão na área onde produzem CMS (carne mecanicamente separada, comumente usada na produção de salsichas). No áudio, foi possível ouvir:
Funcionário: o problema é colocar papelão lá dentro do CMS, também né. Tem mais essa ainda. Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora se eu não consegui em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar.
Luiz Fossati (gerente de produção da BRF): aí tu pesa tudo que nós vamos dar perda. Não vamos pagar rendimentos nisso.
Em nota, a empresa BRF afirmou que "houve um grande mal-entendido na interpretação do áudio capturado pela Polícia Federal". A empresa afirma que um de seus funcionários falava que tentaria embalar a carne em papelão. O produto é embalado normalmente em plásticos. "Na frase seguinte, ele deixa claro que, caso não obtenha a aprovação para a mudança de embalagem, terá de condenar o produto, ou seja, descartá-lo", afirma a empresa.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que a narrativa da Polícia Federal na Operação Carne Fraca foi fruto de uma má interpretação. "Isso de misturar papelão na carne é uma insanidade, uma idiotice. As empresas investiram milhões de dólares, demoram mais de 10 anos para consolidar mercado. E vão misturar papelão na carne? Pelo amor de Deus. A narrativa nos leva a criar fantasia. A partir de uma fala, as redes sociais, a mídia, cada um fala uma coisa", disparou. Segundo ele, a utilização de ácido ascórbico e de cabeça de porco são permitidas pela legislação desde que se respeitem as quantidades estipuladas. O ministro destacou que os agentes federais não pediram informações técnicas ao Ministério da Agricultura, porque funcionários da pasta estavam sob investigação. Ele disse, ainda, que a partir de agora espera que as investigações da Operação Carne Fraca tomem "outro rumo", já que dados técnicos deverão ser incorporados ao inquérito.
Para evitar problemas, Pedro Eduardo de Felício, médico veterinário e especialista em carnes, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, afirma que os consumidores devem conferir se os estabelecimentos de onde compram carne vendem produtos com certificação de origem e de inspeção, mesmo após as acusações de corrupção de inspetores federais.
"Este escândalo é de desvio de conduta de 33 funcionários, que foram afastados, entre mais de quatro mil inspetores. E o Ministério da Agricultura está tomando atitudes para corrigir o problema. A partir de agora, todo mundo vai ficar alerta”, afirmou Pedro Eduardo.

Questão para debate:
Quem mais sairá prejudicado da Operação Carne Fraca:  a empresa que perdeu a possibilidade de exportar sua mercadoria ou o consumidor brasileiro que está comendo carne “maquiada”?
Analise a imagem abaixo e pense em uma alternativa para essa questão.


Richter, André. Ministros do STF criticam forma de divulgação da Operação Carne Fraca. Agência Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-03/gimar-mendes-e-dias-toffoli-criticam-forma-de-divulgacao-da-operacao>. Acesso em 22/03/2017.

Mendonça, Renata. Papelão e substância cancerígena ou exagero? O que se sabe - e o que é dúvida - na Operação Carne Fraca. BBC Brasil. Disponível em:<

Vaiano, Bruno. A real sobre o bife de papelão e outros mitos sobre carne. Super Interessante. Disponível em:< http://super.abril.com.br/ciencia/a-real-sobre-o-bife-de-papelao-e-outros-mitos-sobre-carne/.> Acesso em 22/03/2017.
Faggion, Andrea. A carne de papelão na era “pós verdade”. O Estadão. Disponível em:<http://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/a-carne-de-papelao-na-era-pos-verdade/>. Acesso em 22/03/2017.

Brasil 247. Ministro: é "idiotice" achar que empresas misturam papelão com carne. Disponível em:




Autoria :
Juliana Lima de Asevêdo de Avelar Almeida 
Licencianda em Ciências Biológicas/ Bolsista Pibex






segunda-feira, 13 de março de 2017

O QUE TEMOS A COMEMORAR NO 8 DE MARÇO?

No último dia 8 de março comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. A data,

que para muitos é (ou deveria ser) motivo de festas, flores, elogios e comemorações –

apenas –, foi atravessado por manifestações que clamavam por respeito e igualdade de

direitos, para além dos simples parabéns.

O Brasil é um país no qual a violência contra a mulher ainda se faz muito

presente, materializando-se desde a violência sexual até as desigualdades salariais entre

homens e mulheres que desempenham a mesma função, passando pela violência

doméstica e pelos comentários pejorativos, cotidianos e naturalizados, direcionados às

mulheres. Não cabe neste espaço a discussão de todos estes tipos de violência, dentre

tantos outros, então vamos direcionar nossa abordagem ao tipo de violência mais

banalizado; àqueles comentários que ouvimos todos os dias, e que já soa “naturalmente”

em nossos ouvidos.



Todo mundo já ouviu a frase “mulher não sabe dirigir”. Há um ditado, inclusive,

que “mulher no volante, perigo constante”. Também acredito que o leitor já tenha

ouvido algumas vezes na vida que “a mulher é muito mais organizada do que o

homem”, bem como “uma mulher sabe cuidar de uma casa, cozinhar, lavar e passar

como nenhum homem do planeta”. Ou ainda: “Mulher nasce para cuidar da casa e dos

filhos”. Mas... o que leva às pessoas a fazerem este tipo de afirmação?

Fonte: http://beta788.humortadela.com.br/charges/32365

Um bom começo para nossa análise é refletirmos sobre as diferenças existentes

entre homens e mulheres, no início de nossa formação biológica. Na espécie humana as

células reprodutivas ou gametas são o óvulo e o espermatozoide, e cada um carrega 23

cromossomos. Uma vez unidos formam a célula ovo ou zigoto, única, e com 46

cromossomos. Esta célula caminha até o útero e quando fixada na parede deste órgão

no, processo chamado de nidação, sofre sucessivas divisões celulares de forma a

originar as primeiras células do indivíduo. O indivíduo carrega, em suas células, 22

pares de cromossomos chamados autossômicos e mais um par de cromossomos sexuais;

se este par for XY, o indivíduo será do sexo masculino; se for XX, do sexo feminino.

De onde vem essas informações sobre a sexualidade biológica? Justamente dos

gametas. O gameta feminino – óvulo – carrega sempre um X; o gameta masculino,

entretanto, pode carregar um X ou um Y; se um espermatozoide Y encontra um óvulo X

(e sempre X), o indivíduo será do sexo masculino. Se o espermatozoide carregar um X e

encontrar o óvulo X, nascerá um bebê do sexo biológico feminino.

Fizemos essa breve explicação biológica para tentar, agora, compreender a

origem dos comentários mencionados anteriormente. Muitas pessoas fazem estes tipos

de afirmação como se, toda mulher, em qualquer lugar do planeta, não dirigisse bem um

carro, por exemplo. Ou ainda, que todo homem, em qualquer lugar do planeta, dirigisse

melhor que qualquer outra mulher. Mais diretamente, como se o sexo biológico do

indivíduo determinasse sua habilidade para a direção de automóveis. Se o que determina

este último é, e somente ele, o par sexual de cromossomos, acabamos por afirmar,

quando fazemos este tipo de comentário, que tais habilidades são determinadas pelo par

de cromossomos sexuais que carregamos, o que é uma inverdade, não comprovada

cientificamente!

Neste sentido, não podemos deixar de mencionar as construções sociais, o que

pode ser resumidamente explicado pelo fato das práticas sociais serem construídas pelos

seres humanos, sociais, e não determinadas biologicamente; e se isto for verdade,

sinaliza para nós que as práticas sociais poderiam ser radicalmente diferentes. Será que

o fato de algumas mulheres serem mais organizadas do que homens, ao invés de estar

relacionado aos cromossomos sexuais, não estaria mais próximo da educação que as

meninas recebem desde a infância? Ou da necessidade de organização face aos

inúmeros papéis que desempenham - casa, família, trabalho? Há ainda quem diga que

homens são mais suscetíveis a traição no relacionamento amoroso do que mulheres.

Será que é o cromossomo Y que leva o homem a trair mais, ou será que isto acontece

porque ensinam a ele, desde pequeno, que quanto maior o número de mulheres com que

ele se relacionar mais poderoso ele é; e ao contrário, ensinam as mulheres que se elas se

relacionarem com muitos homens não conseguirão um relacionamento estável e

tampouco o respeito da sociedade?

Estes exemplos indicam, resumidamente, que há um equívoco não só moral, mas

também biológico nas afirmações que se fazem. Cabe às mulheres e a todos que

desejam a igualdade de gênero lutar para o fim de todas as violências expostas no início

do texto, impedindo e denunciando todo e qualquer discurso que naturaliza ou atribui à

genética as características determinadas socialmente. E mais: cabe, as escolas, dentro do

próprio ensino da Biologia, a abordagem e o debate destes temas, de forma que o

conhecimento e o pensamento crítico façam resistência a mera reprodução de

construções e conhecimentos sociais pré-determinados.


Autoria: Maria Carolina Pires de Andrade - Licencianda em Biologia - Bolsista PIBEX.