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segunda-feira, 13 de março de 2017

O QUE TEMOS A COMEMORAR NO 8 DE MARÇO?

No último dia 8 de março comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. A data,

que para muitos é (ou deveria ser) motivo de festas, flores, elogios e comemorações –

apenas –, foi atravessado por manifestações que clamavam por respeito e igualdade de

direitos, para além dos simples parabéns.

O Brasil é um país no qual a violência contra a mulher ainda se faz muito

presente, materializando-se desde a violência sexual até as desigualdades salariais entre

homens e mulheres que desempenham a mesma função, passando pela violência

doméstica e pelos comentários pejorativos, cotidianos e naturalizados, direcionados às

mulheres. Não cabe neste espaço a discussão de todos estes tipos de violência, dentre

tantos outros, então vamos direcionar nossa abordagem ao tipo de violência mais

banalizado; àqueles comentários que ouvimos todos os dias, e que já soa “naturalmente”

em nossos ouvidos.



Todo mundo já ouviu a frase “mulher não sabe dirigir”. Há um ditado, inclusive,

que “mulher no volante, perigo constante”. Também acredito que o leitor já tenha

ouvido algumas vezes na vida que “a mulher é muito mais organizada do que o

homem”, bem como “uma mulher sabe cuidar de uma casa, cozinhar, lavar e passar

como nenhum homem do planeta”. Ou ainda: “Mulher nasce para cuidar da casa e dos

filhos”. Mas... o que leva às pessoas a fazerem este tipo de afirmação?

Fonte: http://beta788.humortadela.com.br/charges/32365

Um bom começo para nossa análise é refletirmos sobre as diferenças existentes

entre homens e mulheres, no início de nossa formação biológica. Na espécie humana as

células reprodutivas ou gametas são o óvulo e o espermatozoide, e cada um carrega 23

cromossomos. Uma vez unidos formam a célula ovo ou zigoto, única, e com 46

cromossomos. Esta célula caminha até o útero e quando fixada na parede deste órgão

no, processo chamado de nidação, sofre sucessivas divisões celulares de forma a

originar as primeiras células do indivíduo. O indivíduo carrega, em suas células, 22

pares de cromossomos chamados autossômicos e mais um par de cromossomos sexuais;

se este par for XY, o indivíduo será do sexo masculino; se for XX, do sexo feminino.

De onde vem essas informações sobre a sexualidade biológica? Justamente dos

gametas. O gameta feminino – óvulo – carrega sempre um X; o gameta masculino,

entretanto, pode carregar um X ou um Y; se um espermatozoide Y encontra um óvulo X

(e sempre X), o indivíduo será do sexo masculino. Se o espermatozoide carregar um X e

encontrar o óvulo X, nascerá um bebê do sexo biológico feminino.

Fizemos essa breve explicação biológica para tentar, agora, compreender a

origem dos comentários mencionados anteriormente. Muitas pessoas fazem estes tipos

de afirmação como se, toda mulher, em qualquer lugar do planeta, não dirigisse bem um

carro, por exemplo. Ou ainda, que todo homem, em qualquer lugar do planeta, dirigisse

melhor que qualquer outra mulher. Mais diretamente, como se o sexo biológico do

indivíduo determinasse sua habilidade para a direção de automóveis. Se o que determina

este último é, e somente ele, o par sexual de cromossomos, acabamos por afirmar,

quando fazemos este tipo de comentário, que tais habilidades são determinadas pelo par

de cromossomos sexuais que carregamos, o que é uma inverdade, não comprovada

cientificamente!

Neste sentido, não podemos deixar de mencionar as construções sociais, o que

pode ser resumidamente explicado pelo fato das práticas sociais serem construídas pelos

seres humanos, sociais, e não determinadas biologicamente; e se isto for verdade,

sinaliza para nós que as práticas sociais poderiam ser radicalmente diferentes. Será que

o fato de algumas mulheres serem mais organizadas do que homens, ao invés de estar

relacionado aos cromossomos sexuais, não estaria mais próximo da educação que as

meninas recebem desde a infância? Ou da necessidade de organização face aos

inúmeros papéis que desempenham - casa, família, trabalho? Há ainda quem diga que

homens são mais suscetíveis a traição no relacionamento amoroso do que mulheres.

Será que é o cromossomo Y que leva o homem a trair mais, ou será que isto acontece

porque ensinam a ele, desde pequeno, que quanto maior o número de mulheres com que

ele se relacionar mais poderoso ele é; e ao contrário, ensinam as mulheres que se elas se

relacionarem com muitos homens não conseguirão um relacionamento estável e

tampouco o respeito da sociedade?

Estes exemplos indicam, resumidamente, que há um equívoco não só moral, mas

também biológico nas afirmações que se fazem. Cabe às mulheres e a todos que

desejam a igualdade de gênero lutar para o fim de todas as violências expostas no início

do texto, impedindo e denunciando todo e qualquer discurso que naturaliza ou atribui à

genética as características determinadas socialmente. E mais: cabe, as escolas, dentro do

próprio ensino da Biologia, a abordagem e o debate destes temas, de forma que o

conhecimento e o pensamento crítico façam resistência a mera reprodução de

construções e conhecimentos sociais pré-determinados.


Autoria: Maria Carolina Pires de Andrade - Licencianda em Biologia - Bolsista PIBEX.

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